O que é microgravidade
O ambiente espacial é único
devido ao vácuo, radiação de alta energia proveniente do Sol e de outras
fontes cósmicas, e da aparente ausência de efeitos gravitacionais. Este
último fator, chamado de microgravidade, permite observar e explorar fenômenos
e processos em experimentos científicos e tecnológicos que seriam mascarados
sob a influência da gravidade terrestre. A condução de experimentos num
ambiente de microgravidade possibilita o melhor entendimento, e o posterior
aperfeiçoamento na Terra, de processos físicos, químicos e biológicos.
A exposição de longa duração à uma gravidade quase nula, é uma situação
que não pode ser reproduzida na Terra. A gravidade é uma das quatro forças
fundamentais da física (sendo as outras a força eletromagnética, a força de
ligação nuclear fraca e a força de ligação nuclear forte), e não pode
simplesmente ser "desligada".
É importante entender como a condição de ausência de gravidade aparece em
espaçonaves orbitando a Terra em altitudes relativamente baixas. A
maioria dos veículos de acesso ao
ambiente de microgravidade aqui caracterizados
como plataformas, tais como o Ônibus Espacial e a Estação Espacial
Internacional (ISS), possuem órbitas entre 200 e 450 km de altitude.
Pela lei da gravitação de Newton, que diz que dois objetos possuem uma
atração gravitacional um pelo outro proporcional a suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância entre seus centros, uma nave teria a
atração gravitacional da Terra reduzida em um milhão de vezes, somente quando
estivesse a 6,4 milhões de quilômetros de distância, ou seja a uma distância
17 vezes maior do que aquela entre a Terra e a Lua.
O fenômeno da microgravidade ocorre porque a espaçonave e tudo que se encontra
dentro dela está num estado chamado de queda livre. Todo o objeto em queda livre fica sujeito a condição de
microgravidade, que ocorre quando ele cai em direção ao centro da Terra com
uma aceleração igual àquela da gravidade (9,8 m/s2 ou 1
g). Um veículo orbital caí continuamente em volta da Terra, pois lhe foi
dada uma certa velocidade inicial tal que sua trajetória
o leva além da superfície da Terra, antes que o campo gravitacional terrestre
possa puxá-lo para o solo. Assim, a astronave e todos os objetos em seu interior estão sob a influência da
gravidade; eles só "não tem peso" relativamente ao sistema de
referência que se move com o veículo.
![]() |
Issac Newton propôs o "experimento imaginário" de colocar um canhão no topo de uma alta montanha e disparar um projétil a uma velocidade suficientemente alta para que entrasse em órbita ao redor da Terra. Se a bala fosse apenas solta, cairia verticalmente em direção ao centro da Terra; conforme sua velocidade tangencial fosse sendo aumentada, seguiria a trajetória de um segmento de elipse, com seu ponto de intersecção com o solo cada vez mais distante; a uma velocidade ainda maior, sua trajetória não mais seria interceptada pela Terra. Conforme a velocidade for aumentada mais ainda, sua trajetória será um círculo, depois uma elipse para, finalmente, quando a velocidade for 41% maior que a velocidade de órbita circular, o projétil seguir uma trajetória parabólica, ou de escape, para nunca mais retornar. |
O termo microgravidade vem do
fato de não existir um ambiente de gravidade
zero num veículo orbital. Uma série de efeitos produzem forças do tipo
gravitacional. Qualquer objeto solto dentro do veículo possuí sua própria
órbita ao redor da Terra. Somente se o objeto estiver localizado exatamente
no centro de massa da nave, terá a mesma órbita desta. Objetos fora do centro
de massa da nave, irão completar um circulo ao redor deste durante cada
órbita. A atmosfera residual existente na altitude da órbita (basicamente
átomos de oxigênio), irá exercer um
efeito de freamento na nave e, como um objeto no seu interior não está sujeito
a esta desaceleração, terá uma pequena aceleração aparente em relação a
esta. Em média a microgravidade obtida numa nave, como a ISS, é de 10-6
g e os efeitos gravitacionais residuais acima descritos são da ordem de 10-7g.
As operações associadas normalmente à uma espaçonave, também influem na
alteração da gravidade no seu interior. Elas geralmente são vibrações de natureza
aleatória (g-jitter) variando de 10-2 a 10-6 g. Por
exemplo, um astronauta balançando a cabeça (10 kg com amplitude de 10 cm e
freqüência de 1 Hz numa nave de 100 toneladas), irá imprimir uma
aceleração de 10-5 g sobre a nave. Astronautas andando
originam acelerações aleatórias que variam de 10-2 a 10-4
g. Manobras para correção de órbita da astronave também produzem variações
no nível de gravidade e, todo este conjunto de perturbações, deve ser
cuidadosamente considerado quando do planejamento de um experimento em
microgravidade.
Veja mais detalhes sobre estes efeitos